História sobre Dermatotilexomania .

Lutando e falando sobre dermatotilexomania, skin picking, transtorno de escoriação...

13/12/2018

Por: Daniele

Ano do diagnóstico: 2014


Nasci em 1977, escrevo este relato em 2018, aos 41 anos. Minha lembrança mais remota de escoriar minha própria pele me remete aos meus 5 ou 6 anos de idade. Naquela época eu só estava "arrancando casquinhas", mas a coisa foi tomando uma proporção descontrolada conforme eu crescia. Para os meus pais, minhas lesões era apenas "relaxamento" da minha parte. Ainda segue forte na minha memória um dia em que a mãe de uma amiguinha comentou com meus pais que minhas orelhas estavam muito inflamadas e eles responderam com certo desdém "Ah, mas também! É ela mesma quem faz isso". Nessa época eu devia estar com uns 8 anos. Me senti humilhada e, pelo fato de a lembrança me ser tão viva até hoje, eu imagino que foi a partir de episódios como esse que eu comecei a me escoriar às escondidas. As manchas e cicatrizes estavam lá para não me deixar mentir sobre o que eu fazia, mas não lembro de receber nada além de repreensão. Não tomo isso com rancor: se até os médicos de hoje ainda desconhecem essa condição, imagine meus pais, no início dos anos 80...
Mas enfim... Nunca fui levada a um psicólogo para tratar isso.
O problema me acompanhou adolescência adentro. Época em que mais nos preocupamos com a aparência e com a opinião dos outros. Sofri, tive poucos relacionamentos, ruins, e para nenhum dos meus parceiros antigos eu me abri sobre a minha real condição.
Nessa época comecei a procurar dermatologistas por conta própria, a mentir que eu não sabia como aquelas lesões apareciam na minha pele. Tomei toneladas de remédios, corticóides, engordei muito por causa deles, colecionei pomadas e cremes. Nada fazia efeito, claro, porque o principal agente causador dos danos - EU - ainda estava ali comigo.
Aos 27 anos, cansada de uma vida inteira me escondendo, resolvi começar a falar a verdade. O pior processo, entender que eu tinha um problema e precisava de ajuda, já tinha acontecido dentro de mim. Já estava com meu atual parceiro havia 10 anos, e até mesmo para ele eu mentia sobre a origem das lesões na minha pele. Comecei por ele, a pessoa em quem eu mais confiava. Abri meu coração, chorei, expus toda a minha fraqueza, debilidade e total incapacidade de lidar com a minha compulsão. Recebi amor, carinho, apoio, compreensão. Em nenhum momento ele me apontou o dedo para me criticar pelo que eu fazia, mesmo nas recaídas. O amor dele foi fundamental para meu processo de recuperação.
Aos poucos fui me abrindo com mais pessoas. Chorava sempre, sentia vergonha sempre, mas sentia que somente colocando para fora eu me libertaria daquele eu que não era eu, e que tanto me machucava. Assim a história prosseguiu, com familiares mais próximos, depois com amigos, e hoje em dia, até com estranhos, colegas de trabalho. Já nem choro mais.
A essa altura você deve estar se perguntando qual o motivo de eu expor a minha condição pra tanta gente. O que funcionou pra mim foi justamente isso: me expor. Quando eu falo da minha condição a quem quer que seja eu conto como funciona, que eu faço sem perceber e que não tenho muito controle. Digo que preciso de ajuda e combino com essas pessoas um "código secreto" para elas me chamarem a atenção. Nada de gritar comigo na frente de todo mundo, tipo "ei, pare de se coçar!". Eu quero, sim, ser chamada a atenção, mas com carinho, com empatia. Não quero ser humilhada, como - lá atrás - meus pais faziam. Combinei um toque no meu braço; é o suficiente para me tirar do estado de transe em que eu entro quando estou me escoriando. Pra você, que está lendo agora, pode ser algo como chamar você pelo nome, dar uma piscadinha, uma cutucada com o pé por baixo da mesa... Você é quem escolhe.
Você nem acredita no quanto as pessoas estão dispostas a ajudar! Elas só não sabem como funciona o transtorno e como nós nos sentimos. Ou seja, não fazem a menor ideia de COMO ajudar. Então temos que FALAR o que queremos, o que precisamos. Falar com amor. Simples assim.
Minha última crise foi em setembro/2017, quando eu estava com uma ferida enorme na perna, aberta há mais de 1 ano, devidamente escondida sob as calcas jeans, inclusive no verão (coisa que eu já nem dava bola mais; perdi a conta de quantos verões eu não fui à praia por causa das minhas lesões).
Curiosamente, em 2017 completei 40 anos e foi o ano em que tudo mudou pra mim. Nesse ano, decidi ser EU MESMA e não me lesionar mais. A primeira parte do processo interno foi assumir os grisalhos... rsss. Uma libertação (e sigo assim até hoje, fios brancos misturados com os meus naturais, luzes para modernizar e tcharã! Estou ótima!). Pouquíssimo tempo depois resolvi que já era hora de dar um basta àquela lesão na minha perna. Procurei um especialista em feridas crônicas e expliquei o que eu fazia, chorei, implorei ajuda. E encontrei um anjo, que saiu do seu "pedestal" (a cadeira de médico do outro lado da mesa), sentou-se ao meu lado, segurou a minha mão e disse "eu vou ajudar você".
Mas o final feliz não começou aqui. O tratamento foi bem difícil, para a minha pele foi muito agressivo. Tive alergia ao componente da medicação, fiquei coberta de bolas vermelhas, com muita coceira e inchada. Olhos, boca, pernas. Foi horrível. Tirei forças nem sei de onde para não destruir toda a pele enquanto estava me recuperando. Parece que precisei chegar ao fundo do poço para me reerguer. Mas não me lamentei disso tudo, não, tirei uma conclusão: seria fácil demais ter um tratamento rápido para algo que eu estava provocando em mim há tanto tempo, não é mesmo? E se fosse tão fácil curar, seria muito fácil recair...
Mais de um ano se passou (escrevo isso em dezembro/2018). Desde o episódio da perna e da alergia parei completamente de escoriar a minha pele.
Em novembro/2018 decidi que estava pronta para dar a mão a outras pessoas que sofrem com esse transtorno, para apoiá-las a trilhar o mesmo caminho que eu, para alcançar o tão sonhado controle.
Comecei o perfil @sobreskinpicking no Instagram, e em pouco tempo recebi dezenas de pedidos de ajuda. Com carinho, compartilhando minha experiência e minhas táticas de guerra à compulsão de escoriar a pele, parece que tenho conseguido tornar melhor alguns dias dessas pessoas. E é isso é o que me move agora. Ajudar também me fortalece para seguir firme no controle.
Então - pra você que leu até aqui - se você se identifica ou conhece alguém que sofre com algo parecido com alguma parte da minha história, entre em contato comigo. Estou aqui para ajudar você de alguma maneira. Se você ainda não tiver chegado no SEU ANO de virar o jogo e controlar o transtorno de escoriação, tenha certeza que chegará. Acontece para cada um a seu tempo.
A minha virada foi aos 40. A sua pode ser hoje. Só depende de você querer, de você se aceitar e aceitar se abrir para o mundo. Estou aqui para segurar a sua mão nessa jornada.
Força!
História sobre Dermatotilexomania

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